Categoria: Gado de Corte

Tipos de manejo de Pastagem: Contínuo, Alternado ou Rotacionado?

Data: 19/06/19

Autor: Renan Morcelli

Dentre os sistemas de produção (extensivo, semi-intensivo e intensivo), o manejo de pasto é alterado de acordo com o objetivo produtivo e os recursos dispostos para manutenção da área.

No geral, três sistemas básicos de pastejo são trabalhados; pastejo contínuo, alternado e rotacionado, nesse texto vamos entender um pouco mais como esses tipos de manejo interferem na nossa produtividade no campo.

Realidade Brasileira no manejo à pasto

O Brasil, país com dimensões continentais e clima tropical, apresenta alto potencial para produção de forragem, onde os animais podem ser mantidos nas pastagens o ano todo.

No entanto, apresenta duas estações principais bem definidas, que na pecuária são conhecidas como águas e secas.

Com estacionalidade marcante, geralmente as pastagens apresentam elevada produção nas águas e baixa produção na seca, causando grande oscilação na produtividade, principalmente quando se trabalha de forma extensiva.

Por isso, o manejo de pastagem tem por objetivo produzir o maior número de plantas possíveis em determinada área, com maior proporção de folhas jovens em relação a colmos e material senescente.

Para uma boa produção, não se deve focar apenas no ganho animal, antes disso, solo e planta necessitam de boas condições de produção para que haja um equilíbrio harmonioso do sistema.

Vamos entender um pouco mais sobre cada um dos sistemas?

gado no pasto

Pastejo Contínuo

 Neste sistema de pastejo, os animais são alocados integralmente em uma área determinada, em grande parte criados extensivamente.

Muito se discute em termos de ganho individual do pastejo contínuo em relação aos demais.

Uma vez que respeitada a capacidade de suporte da pastagem (lotação abaixo da capacidade do pasto), com menor competição e maior seleção, o rebanho consegue se alimentar de porções com qualidade superior à média do pasto.

Pontos positivos do Pastejo Contínuo

Um dos grandes pontos do pastejo contínuo, é a menor demanda de mão de obra, que está cada vez mais escassa no campo.

Sem a necessidade de alternação de área, os lotes permanecem no pasto o tempo todo, havendo deslocamento apenas para manejo sanitário, entrada e saída de animais.

Limitações do Pastejo Contínuo

Uma das limitações do pastejo contínuo é a pressão exercida pelos animais sobre a forrageira.

A permanência ininterrupta do gado dificulta a revitalização da planta, atrasando a rebrota e aumentando a quantidade de material danificado, oriundos do pisoteio mais intenso nesta modalidade de pastejo, além de levar ao rebaixamento excessivo da planta.

Outro ponto que deve ser levado em conta, é que em caso de ataque de pragas ou estiagem prolongada, não haveria outras áreas para alocar os animais, prejudicando consideravelmente o seu desempenho.

Como fazer e a relidade do pastejo contínuo

O que vemos na prática do manejo feito sob o pastejo contínuo é:

Em regiões com estações secas severas, o ajuste de carga e suporte da área se torna mais difícil, uma vez que se deve trabalhar com menos animais para atravessar o período seco sem perder em produção.

Mas, em contrapartida, há um excedente de forragem produzida nas águas por conta da baixa lotação, ocorrendo um superpastejo no inverno e subpastejo no verão.

No geral, na lotação contínua, o vigor de rebrota, o perfilhamento, a produção matéria seca (MS) de forragem e a capacidade de suporte da pastagem são menores. Todos estes fatores levam a uma menor produtividade/área, trabalhando com um número reduzido de animais.

 gado a pasto

Pastejo Alternado

O Pastejo Alternado consiste em ter áreas desocupadas destinadas a uso quando o pasto que está sendo utilizado estiver bastante consumido ou apresentar algum estágio de degradação.

Diferente do pastejo contínuo, este sistema possibilita um melhor ajuste do suporte da fazenda, aumentando a produtividade de forma geral.

Pontos positivos do Pastejo Contínuo

O pastejo alternado possibilita maior volume de forragem, com médias de produção e qualidade superior.

Mesmo aumentando a carga animal e a competição em relação ao contínuo, o material produzido pela pastagem em repouso apresenta em média maior valor nutritivo, além de possibilitar o pastejo mais uniforme na entrada dos animais e menor desperdício de forragem.

Trabalhando com alternância de áreas, é possível melhorar o ajuste de entrada e saída, minimizando os danos na estrutura da planta e do solo, melhorando a cobertura e diminuindo a compactação.

Estes fatores beneficiam a infiltração de água e aumentam a matéria orgânica, auxiliando a manutenção da planta nos períodos de descanso e conferindo maior resistência no período de ocupação.

Pastejo Contínuo na Prática

Diferimento de Pastagem

Uma das ferramentas do manejo alternado é o diferimento de pastagem, que consiste em vedar uma área de pasto no período da safra para utilização na entressafra.

É importante ajustar as datas de diferimento de acordo com a pastagem, o índice pluviométrico da região e a fertilidade do solo.

Geralmente este diferimento é realizado no final do período chuvoso/início de seca, para que na época de uso a forragem não tenha passado do ponto de colheita, aumentando estrutura de planta e diminuindo a qualidade.

Um outro ponto a se considerar sobre o pastejo alternado, é ter reserva de capim para possíveis oportunidades de negócio, como a compra de gado em épocas que os preços são favoráveis, aumentando a lucratividade da atividade.

Veja também: [PASSO-A-PASSO] Pastejo Rotacionado com Desponte e Repasse

Pastejo Rotacionado

O pastejo rotacionado ou Voisin, consiste na divisão da área de pasto em mangas menores ou piquetes, onde os animais alternam o pastejo em períodos fixos de ocupação e descanso, de acordo com as condições da pastagem.

Este método de pastejo é utilizado geralmente em sistemas intensivos de produção, demanda maior mão de obra e exige um manejo mais avançado da propriedade, com nível de tecnificação mais elevado que os sistemas extensivos e semi-intensivos.

Pontos positivos do Pastejo Rotacionado

A rotação do gado na pastagem possibilita um aumento da carga animal sem prejudicar a forrageira nem degradar o solo.

Com ajuste de entrada e saída, é possível produzir boa quantidade de folhas, respeitando o resíduo necessário para rebrota eficiente da planta e acúmulo de matéria orgânica no solo.

Saiba mais: 2 Pontos Críticos que vão mudar sua visão sobre Pastejo Rotacionado

A rotação promove taxa de perfilhamento e rebrote na planta mais acelerado que no pastejo contínuo, podendo se trabalhar com lotes maiores e dias de ocupação mais curtos.

Como a rebrota e desbaste são constantes, há um aumento na relação folha/colmo, melhorando a digestibilidade e valor nutricional do pasto.

pastejo rotacionado

Pastejo Rotacionado na prática

O uso do pastejo rotacionado é uma estratégia bastante eficiente de produção de forragem, principalmente no inverno onde as temperaturas são mais baixas, os dias mais curtos e a precipitação menor, demandando um maior período de descanso da pastagem para seu reestabelecimento.

O sistema de rotação possibilita a utilização de cultivares altamente produtivas e com menor resistência ao pisoteio, como as espécies do gênero Panicum, quem no manejo contínuo são altamente prejudicadas.

Uma forma de incrementar ainda mais a eficiência produtiva da forragem é o uso de irrigação e adubação, porém, é necessário um controle muito rígido do rebanho e do pasto para que não haja sobras.

Definindo o período de descanso e de ocupação

O período de descanso e período de ocupação são definidos por vários fatores;

  • precipitação
  • irrigado ou não
  • uso de fertilizantes
  • espécie forrageira empregada
  • categoria animal
  • tamanho de lote
  • topografia
  • condições do solo
  • dentre outros fatores.

A nível de campo, as espécies do gênero Brachiaria e Cynodon em pastejo rotacionado apresentam altura de entrada média entre 30-40 cm e saída entre 20-25 cm, com período de descanso de 21 a 30 dias.

Já as cultivares do gênero Panicum geralmente apresentam altura de entrada de 80-90 cm e saída de 40-50 cm e períodos de descanso de 28 a 35 dias. Estes valores servem de base para o manejo da pastagem, mas não são regra.

É importante a observação do comportamento da gramínea e dos animais para realizar as ações corretivas em caso de desvios acentuados, salvando que cada situação é particular, sendo necessário um tipo de manejo para cada condição.

Qual o melhor sistema de manejo de pastagem para mim?

Independente do sistema de pastejo adotado e do manejo da fazenda, é importante respeitar os limites do solo e da planta, sendo estes os itens de maior valor na atividade.

Garantir um bom stand de plantas com boa produção de MS, não apenas para o animal, mas para manutenção da forrageira, cobertura e matéria orgânica do solo é fundamental para bons índices produtivos.

O sistema rotacionado tem se mostrado bastante eficiente para as condições brasileiras, saltando de menos de 1 UA/ha (média nacional), para até 15 UA/ha, variando de acordo com o nível de tecnificação da propriedade.

É preciso que o pecuarista, seja ele do corte ou leite, tenha uma visão empresarial da propriedade e encare a atividade de maneira profissional, assim a pecuária se torna um negócio cada vez mais lucrativo.   

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