A síndrome da vaca caída é um desafio comum nas fazendas leiteiras e causa prejuízos significativos para os produtores, podendo ser maiores se os casos não forem diagnosticados, tratados e minimizados. Ela é expressa quando a vaca se encontra em um decúbito prolongado (mais de 12 horas), por incapacidade ou recusa da vaca em se levantar (Giudice et al. 2010; Burton et al., 2009) Vacas em período de transição, especialmente no pós-parto, são mais vulneráveis. Compreender as causas, reconhecer os sinais e agir de forma estratégica pode evitar perdas produtivas e até a morte do animal.
Neste artigo, você vai aprender como identificar os sintomas, conhecer as principais causas — como hipocalcemia, cetose, septicemias, doenças neurológicas e traumas — e, principalmente, descobrir como evitar que isso aconteça no seu rebanho.

O que é esse problema e por que merece atenção?
A síndrome da vaca caída descreve vacas que não conseguem se levantar, mesmo com bom estado corporal e aparente consciência. Essa condição exige resposta rápida, já que o tempo de inatividade impacta diretamente a recuperação da vaca. Apenas 33% das vacas que permanecem em decúbito por mais de 24 horas, recuperam-se sem sequelas. Os danos musculares secundários e aos nervos periféricos são os principais complicadores. Por isso, a identificação precoce é fundamental.
Síndrome da vaca caída: Como saber se a vaca está com o problema?

O principal sinal é a incapacidade de levantar-se. No entanto, outros sintomas ajudam no diagnóstico:
- Apatia e falta de apetite
- Membros estendidos e sem movimento
- Respiração acelerada
- Tremores musculares
- Desorientação
Fatores que contribuem para o surgimento do quadro
Existem diversas causas para a vaca cair. A seguir, mostramos as mais comuns e como elas afetam o desempenho do rebanho.
Queda nos níveis de cálcio
A hipocalcemia, também conhecida como febre do leite, é a principal causa do quadro no pós-parto. Ocorre quando há uma queda brusca no cálcio circulante, essencial para as funções musculares.
É necessário lembrar o cálcio, é fundamental para as contrações musculares, por isso baixos níveis de cálcio podem levar o animal a perda da capacidade de locomoção. O tratamento deve ser feito com aplicação intravenosa de cálcio, com monitoramento veterinário.
Estratégias de prevenção incluem dieta aniônica para o pré-parto (21 dias antes do parto) e suplementação mineral e vitamínica balanceada conforme a exigência da categoria animal. A eficiência da dieta aniônica será mensurada através da avaliação do pH de urina dos animais do pré-parto que deve estar no intervalo de 6,0 – 6,8.

Cetose
A cetose ocorre principalmente em vacas recém paridas de alta produção, e é causada devido uma alteração do déficit de energia do animal. A quantidade energética que o animal consome não atende à sua demanda, por isso, o animal passa a usar a reserva de gordura corporal. Porém, na cetose esses compostos ultrapassam a capacidade do organismo de metabolização, se tornando tóxico ao animal.
A cetose deve ser controlada através de um bom manejo no período de transição, envolvendo conforto, dieta, sanidade e maximizando a ingestão de matéria seca do animal.
Septicemias
As septicemias é uma infecção generalizada. Pode ser provocado por diversos fatores, mas principalmente se inicia com uma doença aguda. Ela é uma causa importante para a síndrome da vaca caída, e algumas das principais doenças associadas a ela são mastites, metrites e doenças infecciosa de casco.
Diferente das doenças metabólicas, nessa a origem é infecciosa então é preciso tratar o animal das doenças de origem e junto com isso um tratamento suporte adequado.
Doenças neurológicas
As doenças neurológicas são complexas, são muitas causas variáveis, podendo ser infecciosa, genética, traumática e toxica, sendo assim é de difícil compreensão. A síndrome da vaca caída pode ser provocada por alguma patologia do sistema nervoso e por isso é preciso atenção.
O tratamento nesse caso é mais complexo e muitas vezes não tem o que ser feito. É importante a intervenção de uma especialista e medidas de prevenção, como vacinações.
Acidentes e lesões físicas
Além dos distúrbios metabólicos, a vaca também pode cair por escorregões, quedas ao parir e manejo inadequado que podem provocar lesões que impedem o animal de se levantar.
Práticas preventivas incluem projeto de instalações com piso antiderrapante, superfície macia, largura apropriada de corredores, adequação de rampas e cuidados no manejo e condução dos animais.
O que fazer quando a vaca não consegue se levantar?
Agir com calma e técnica é o primeiro passo. Veja algumas orientações práticas para lidar com o problema no campo:
- Não force o animal a se levantar.
- Proporcione ambiente confortável e limpo.
- Ofereça água e alimento de fácil acesso para os animais.
- Monitore o consumo de alimentos (ingestão alimentar) e as sobras.
- Evite manejos bruscos e frequentes.
- Siga o protocolo de tratamento com base no diagnóstico.
Além disso, anote os sinais observados e comunique à equipe técnica. Isso ajuda a evitar erros no manejo e agilidade na tomada de decisão.
Síndrome da vaca caída: Como prevenir a síndrome e proteger o rebanho?
A prevenção começa muito antes da vaca cair. Com medidas simples e efetivas no manejo e na nutrição, é possível evitar a maioria dos casos. Veja como:
- Ofereça dieta aniônica no pré-parto para induzir resistência hormonal do cálcio.
- Bom manejo no período de transição com foco em conforto, saúde e nutrição.
- Ajuste e Balanceamento de dietas com base na exigência nutricional da categoria (Pré-parto).
- Avalie o escore corporal para evitar vacas obesas ou muito magras (ECC manutenção entre 3,0 – 3,5).
- Evite ambientes escorregadios, principalmente na sala de espera e ordenha.
- Invista em capacitação da equipe para identificar e prevenir os fatores de risco ligados ao manejo, como densidade animal muito alta, condução dos animais sem cuidado etc. E na capacitação de como atuar caso acontece esse quadro.
Em outras palavras, a prevenção é mais barata, mais eficaz, simples e mais segura do que o tratamento.
Considerações finais
A síndrome da vaca caída representa um dos principais desafios no pós-parto em bovinos de leite, com impacto direto em produção e bem-estar. Uma abordagem técnica eficaz envolve diagnóstico diferencial, intervenção clínica multidisciplinar (correção metabólica, antimicrobiana, suporte físico) associada a um robusto protocolo de prevenção, ancorado em nutrição, manejo estruturado e capacitação técnica.
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