Um dos grandes desafios de quem produz gado de corte a pasto, é otimizar a produção do gado com a produção de capim da fazenda.
Em outras palavras: definir quantos e quais animais colocar nos pastos, de forma que tenham um bom desempenho animal, sem estragar e degradar as pastagens.

Quais as causas desse desafio?
Entre os vários motivos, os mais frequentes são:
1- Crescimento estacionário
Na maior parte do Brasil, o crescimento forrageiro é estacionário. Isso significa que ele cresce em um período do ano e no outro não. Além disso, durante a época de crescimento, o forrageiro é influenciado pelas chuvas.
Há anos em que chove mais, em outros a chuva chega tarde ou vai embora cedo. Assim, o pecuarista precisa produzir em uma indústria a céu aberto, e não tem total controle da fábrica de capim.
2- Potencial de produção forrageira
Em geral, as fazendas não sabem ao certo qual o potencial de produção forrageira da sua fazenda. E realmente não é fácil definir isso. São algumas variáveis que requerem conhecimento e experiência para determinar esse potencial.
Muitas fazendas têm mais de um tipo de solo e mais de um tipo de forrageira. Também possuem áreas com diferentes percentuais de cobertura de solo com capim de fato. (muitas vezes chamamos isso de área efetivamente empastada).
3- Falta de planejamento estruturado
No Brasil, não é cultural estruturar planejamentos. Assim, poucas fazendas montam o planejamento de rebanho estruturado, que contempla:
- Definição do rebanho da fazenda mês a mês, com o peso previsto para cada período
- Plano de todas as movimentações de compra e venda, em quantidade e peso dos animais.
4- Falta de um modelo de gestão
Mais difícil do que planejar, é estruturar um modelo de gestão deste processo (pelo menos mensal):
- Como está o capim (quantidade e qualidade)
- Como está a curva de crescimento do capim
- Como está indo à execução do planejamento do rebanho.
A ausência desta gestão não permite a tomada de medidas corretivas e preventivas ao longo do processo.
Isso significa que, em muitas propriedades no Brasil, a produção pecuária em pastagens ainda é uma atividade realizada no achismo, no sentimento e na lembrança de alguns momentos históricos.
Uma das formas de avaliar a qualidade da tomada de decisões sobre o manejo das pastagens está na taxa de reforma. Muitas fazendas acabam entrando no ciclo vicioso das reformas, muito bem retratada pela imagem abaixo.

Fonte: Andrade, C.M.S. (2019 – Simpósio Esalq)
Este ciclo retratado na imagem, mostra que quando a pastagem degrada, o pecuarista realiza a reforma. Após isso, o pasto vem vigoroso, e ele acredita que pode colocar bastante gado.
Quando essa quantidade de rebanho é maior do que a capacidade de suporte, a pastagem fica mal manejada, e inicia o processo de degradação, até que venha uma nova reforma.
Quantos hectares você reformou de pastagens nos últimos anos? Isso representa qual percentual da sua área?
É um bom momento para refletir como a sua fazenda está lidando com o manejo de pastagens.
Planejamento forrageiro: como fazer
As principais forrageiras utilizadas no Brasil, são as plantas perenes, como:
- Braquiárias
- Panicuns (Mombaça, Massai etc)
- Andropogon
Estas não precisam ser replantadas. Temos a missão de levar o máximo possível de longevidade as pastagens, aproveitando ao máximo cada centavo investido na sua formação.
Para isso, é preciso conciliar a produção forrageira, com a lotação animal. Além disso, é importante fazer os tratos culturais necessários, como a correção de solo (quando for o caso), reposição de nutrientes, combate a pragas etc.
Um dos caminhos que encontramos para essa longevidade está no bom planejamento de uso das pastagens e depois no manejo do dia a dia.
Sendo assim, siga essas dicas:
- Passo 1:
Por meio da avaliação do tipo de solo, vegetação nativa, análise de solo e dados históricos, conseguimos definir o quanto de produção forrageira cada fazenda possui.
- Passo 2:
Com curvas históricas de chuva e temperatura, conseguimos estimar como o crescimento forrageiro se comportará.
- Passo 3:
Para a produção anual das forrageiras, precisamos definir a quantidade de material que necessita ir para a reciclagem de nutrientes do solo, com a finalidade de realizar a nutrição da microbiota. Assim, teremos a quantidade de forragem disponível para o consumo dos animais.
- Passo 4:
Estruturamos o planejamento de rebanho. Saberemos então, o consumo de forragem mensal (proporcional ao peso projetado dos animais). Projetamos a massa de forragem que teremos mês a mês (produção de capim – sobra para reciclagem de nutrientes – consumo dos animais).
- Passo 5:
Nessa etapa, precisamos fazer os ajustes necessários, pois a evolução de rebanho pode estar levando a falta ou sobra de capim.
- Passo 6:
Neste momento, decisões precisam ser tomadas. Caso falte capim, é possível ajustar a produção por meio da adubação, da venda de mais animais, do arrendamento de pastagens ou do fornecimento de ração como substituto, entre outras alternativas. Em caso de sobra de capim, podemos comprar mais animais, ou produzir silagem de excedente.
- Passo 7:
Todo esse planejamento vai gerar impacto financeiro. E as decisões precisam ser tomadas avaliando não só a capacidade produtiva, mas, principalmente baseado na saúde financeira do negócio.
- Passo 8:
Depois de todo o plano realizado, vamos para a vida real. Nessa hora, algumas coisas certamente não vão acontecer como o previsto.
As chuvas devem impactar de alguma forma a curva de produção, o mercado pode inviabilizar alguma compra ou venda de determinada categoria animal… E com um bom sistema de gestão implementado, é possível avaliar essas alterações e tomar decisões em prol do resultado financeiro e da saúde das suas pastagens.
Tenha sempre um plano B!
Este método já vem sendo adotado há muitos anos em diversas propriedades, elevando a taxa de produtividade e reduzindo drasticamente as reformas de pastagens.
A cada ano implementado, é possível avaliar onde acertamos e erramos no planejamento. Essa reflexão permite evoluirmos, melhorando a tomada de decisão. Em alguns momentos o clima vai nos pregar algumas peças… E nessa hora é sempre bom ter um plano B: tenha sempre um estoque de forragem debaixo da lona.
Ela vai ser muito útil na transição de seca para águas, e também quando a chuva nos deixar na mão em alguns momentos do ano. Isso evita a necessidade de vender gado em momentos desfavoráveis do mercado.
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